O que trouxeram as águas de Março

Resumindo muito, Elis é natural de Porto Alegre e nasceu no dia 17 de março de 1945. Desde muito pequena já cantava e passou a se apresentar e ser atração constante no "Clube do Guri", um programa destinado a jovens talentos na Rádio Farroupinha. A guria tímida de rabo-de-cavalo aos 15 anos grava o seu primeiro disco, o "Viva a Brotolândia", repleto de "rockinhos" tentando fazer frente a Celi Campelo, cantora em alta na época.
Poucos dias antes da instauração da Ditadura Militar no país, em março de 1964, Elis desembarca com seu pai no Rio de Janeiro e logo assina contrato com a TV Rio e é nesse meio que conhece seu primeiro futuro marido: Ronaldo Bôscoli, com quem teve seu primeiro filho, João Marcelo Bôscoli.
Em 1965, Elis dá o grande salto de sua carreira: cantando com uma performance inigualável "Arrastão", alucinou o público e venceu o Primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Com apenas 20 anos e há um ano no Rio de Janeiro, assinou contrato com uma emissora paulista e passou a ser a mais bem paga artista brasileira até então.

Como intérprete já de sucesso, lança um novo compositor a cada disco seu. Nomes hoje célebres como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Tim Maia estão na lista dos que tiveram suas canções interpretadas lindamente pela artista.
Segundo o jornalista Nelson Motta, todos os seus parceiros afetivos tiveram influência em sua carreira e em suas músicas, mas nenhum teve mais participação do que seu segundo marido, César Mariano, seu pianista e arranjador. Com ele teve mais dois filhos, Pedro Mariano e a caçula Maria Rita.
Elis tinha um apreço singular por Tom Jobim, de quem interpretou muitas canções – entre elas "Águas de Março", que eu não poderia deixar de linkar aqui.
"Águas de março" de Tom Jobim
Um vídeo que me emocionou muito é sua performance de um de seus grandes sucessos: "Como nossos pais" do disco "Falso Brilhante"
"Como nossos pais" de Belchior
Elis e sua obra deixaram marcas também na história do país. A canção "O bêbado e a equilibrista" se tornou hino da Anistia no país na época da grande campanha pela anistia dos axilados e presos políticos durante a ditadura militar.
A cantora tinha o apelido de "A pimentinha", e é fácil de presumir o porquê: os que a conheceram dizem que era extremamente sincera, impulsiva e temperamental. Não fazia questão de fazer média com os críticos e prezava sempre por ser franca, dizer sempre o que pensava. Era, sobretudo, autêntica.
Elis veio a falecer no dia 19 de janeiro de 1982, com apenas 36 anos de idade, devido a altas doses de tranquilizantes, cocaína e bebidaas alcoólicas.
Dica: vale a pena assistir ao Programa Ensaio da Tv Cultura de 1973 com Elis Regina. Um mix de belas canções e memórias da cantora.
"Ladeira da Preguiça" de Gilberto Gil escrita especialmente para Elis
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