sábado, 20 de março de 2010

O que trouxeram as águas de Março

Estava eu no meio do próximo post de Cultura quando me lembrei que nessa última quarta-feira (17/03) estaria completando 65 anos a inesquecível Elis Regina. Acabei mudando de idéia pois acho que cai como uma luva esse novo post de Cultura ter esse grande nome da música popular brasileira como tema.

Resumindo muito, Elis é natural de Porto Alegre e nasceu no dia 17 de março de 1945. Desde muito pequena já cantava e passou a se apresentar e ser atração constante no "Clube do Guri", um programa destinado a jovens talentos na Rádio Farroupinha. A guria tímida de rabo-de-cavalo aos 15 anos grava o seu primeiro disco, o "Viva a Brotolândia", repleto de "rockinhos" tentando fazer frente a Celi Campelo, cantora em alta na época.

Poucos dias antes da instauração da Ditadura Militar no país, em março de 1964, Elis desembarca com seu pai no Rio de Janeiro e logo assina contrato com a TV Rio e é nesse meio que conhece seu primeiro futuro marido: Ronaldo Bôscoli, com quem teve seu primeiro filho, João Marcelo Bôscoli.

Em 1965, Elis dá o grande salto de sua carreira: cantando com uma performance inigualável "Arrastão", alucinou o público e venceu o Primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Com apenas 20 anos e há um ano no Rio de Janeiro, assinou contrato com uma emissora paulista e passou a ser a mais bem paga artista brasileira até então.

Elis Regina interpretando "Arrastão"

Como intérprete já de sucesso, lança um novo compositor a cada disco seu. Nomes hoje célebres como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Tim Maia estão na lista dos que tiveram suas canções interpretadas lindamente pela artista.

Segundo o jornalista Nelson Motta, todos os seus parceiros afetivos tiveram influência em sua carreira e em suas músicas, mas nenhum teve mais participação do que seu segundo marido, César Mariano, seu pianista e arranjador. Com ele teve mais dois filhos, Pedro Mariano e a caçula Maria Rita.

Elis tinha um apreço singular por Tom Jobim, de quem interpretou muitas canções – entre elas "Águas de Março", que eu não poderia deixar de linkar aqui.

"Águas de março" de Tom Jobim

Um vídeo que me emocionou muito é sua performance de um de seus grandes sucessos: "Como nossos pais" do disco "Falso Brilhante"

"Como nossos pais" de Belchior

Elis e sua obra deixaram marcas também na história do país. A canção "O bêbado e a equilibrista" se tornou hino da Anistia no país na época da grande campanha pela anistia dos axilados e presos políticos durante a ditadura militar.

A cantora tinha o apelido de "A pimentinha", e é fácil de presumir o porquê: os que a conheceram dizem que era extremamente sincera, impulsiva e temperamental. Não fazia questão de fazer média com os críticos e prezava sempre por ser franca, dizer sempre o que pensava. Era, sobretudo, autêntica.

Elis veio a falecer no dia 19 de janeiro de 1982, com apenas 36 anos de idade, devido a altas doses de tranquilizantes, cocaína e bebidaas alcoólicas.


Ao assistir suas performances é muito fácil perceber que quando canta, ela canta primeiro para si, sente a música, e no final das contas não canta a própria canção, mas os sentimentos que retira dela, numa espécie de interpretação de alma e não somente de corpo. É, simplesmente, divino.


Dica: vale a pena assistir ao Programa Ensaio da Tv Cultura de 1973 com Elis Regina. Um mix de belas canções e memórias da cantora.

"Ladeira da Preguiça" de Gilberto Gil escrita especialmente para Elis

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