domingo, 28 de março de 2010

Quem? Otto Stupakoff

'Jardins de Boulogne' - Otto Stupakoff

Se é pra falar em moda, falemos então de Otto Stupakoff. Quem é ele? Paulistano,é considerado o primeiro fotógrafo de moda do Brasil. Em entrevista dada ao Caderno2 do Estadão, Otto conta: Pedi ao [estilista] Denner [Pamplona] um vestido emprestado. Coloquei na mala, peguei um ônibus para o Rio de Janeiro, combinei com minha namorada, Duda Cavalcanti, e fomos para a casa do Heitor dos Prazeres, amigo pintor e sambista, que morava numa casa Art Noveaux. Neste terraço, coloquei a Duda com o vestido do Denner, que ele havia feito, em 1955. Era um vestido branco e azul-marinho. Neste dia, no terraço da casa de Heitor, a Duda vestindo Denner, foi feita a primeira foto de moda no Brasil. Esta foto, que fiz para mim, nunca foi publicada." Com relação a fotografia de moda, Otto dizia que sempre buscava fazer da modelo uma atriz – tinha “ojeriza” de fotos posadas, tentava fazer do retrato de moda um retrato familiar, o mais espontâneo possível. Essa criação de estilo próprio é hoje na fotografia de moda muito castrada. Não se dá ao fotógrafo a liberdade de desenvolver seu trabalho. Espera-se dele que produza um ensaio dentro dos padrões. Tanto é que se eu perguntar a você, leitora, o que te lembra uma fotografia de moda, facilmente chegaremos a lugares e referenciais comuns. Olhares de lado, um ar sexy, na maior parte sérios e um tanto quanto misteriosos. Tenho a impressão que, se eu recomeçasse a fotografar moda, se me fosse dada a oportunidade, começaria de onde parei, porque até hoje não vi ninguém fazendo o que eu imaginava.”



Stupakoff retratou mais de 300 celebridades, grande parte delas internacionais. Isso porque ele foi mais um daqueles casos em que a produção artística só teve verdadeiro reconhecimento no exterior. Em suas últimas entrevistas, Otto revelava um descontentamento com o país no que diz respeito ao não reconhecimento de seu trabalho – o que me pareceu, em partes, fruto de um certo convencimento: “Os Estados Unidos e a Europa me proporcionaram os elementos necessários para poder trabalhar muito bem. Modelos, assessoria... estou falando de fotografia de moda, que envolve muitas pessoas na produção, e o talento de quem estava nesse meio, fora do país, era muito superior. Tudo isso me faltou aqui. Faltou um trabalho no Brasil que pagasse dinheiro, e assim tive que voltar para Nova York.” Não sei até que ponto isso tem fundamento, ou até que ponto isso é símbolo de um certo preconceito contra o país em que nasceu. Relativismos à parte, não há que se discordar da importância de seu trabalho e de seu reconhecimento internacional.

Bob Wolfenson, também fotógrafo de moda brasileiro, fala que Stupakoff era um devoto dionisíaco da beleza – a beleza possível de ser apreciada com o olhar. Otto: “Sempre fui encantado pela beleza. Para mim, ela é essencial para viver. É algo que o povo japonês, por exemplo, tem inato: desde pequeno eles cortam papel, dobram papel, tem uma consciência da beleza. Esse amor, essa necessidade de tocar a beleza sempre esteve comigo desde pequeno e o feio me atrapalha toda a vida _é difícil me acostumar a São Paulo, que é caótica visualmente, desorganizada. Então eu preciso recorrer ao mundo interno da beleza, ao meu mundo particular. A beleza pra mim faz parte do programa diário.”


O fim de sua vida foi marcada de grandes homenagens brasileiras: em 2005 foi homenageado em mostra do SPFW, em 2007 ainda no SPFW lançou seu livro “Otto Stupakoff” e no início de 2009 foi homenageado pelos 50 anos de sua carreira com exposição no Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro. Para um país “ingrato” ou quem sabe pouco acolhedor ao trabalho de Otto, até que sua obra recebeu (e recebe) bastante reconhecimento. ;D

Vale conferir!

-> Otto Stupakoff. São Paulo: Cosac & Naify, 2006

-> Entrevista de Otto Stupakoff para o portal UOL.. Clique aqui.


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